segunda-feira, 24 de setembro de 2007

o despiste de Caifundo

o despiste de caifundoNada mais foi do que uma simples noção para que despontasse uma chuva de outras e outras e ainda mais… Sucessivas.

Para depois num alongamento de uma dessas noções, sofrer ao que se diz ser um despiste e quantos não acontecem quando menos se espera. Pois este foi um igual a esses.

- Grande merda!!! E nada mais se ouviu, apenas os gestos de um corpo que se acolhe com os braços envoltos na sua cabeça, o nome do corpo não se sabe, nem se veio de um sonho ou nada mais do que uma mistura para alguns ridícula para outros tantos um delírio, neste caso a visão e a ilusão podem por vezes ser um só.

- E é a mim que dizes, que me acordas e me fazes falar, quando as palavras nada podem fazer por mim, não me valem.

Nem de nome sou digno, agora digo eu:

- Grande merda de começo, ainda para mais deixas-me encolhido naquela cama, ou pensavas que me ia deitar no chão? Já que ao teu palco não vieste eu assim o fiz.

Assim mesmo o palco se encheu de todas as cores escolhidas e todas as vozes, a vergonha serve como fundo negro para que ninguém se esqueça da sua existência, do autor e seu fruto nada se diz, que se pode dizer quando estes são um todo?

Nada lhe fazia sentido, tudo vazio de tudo o que podia ocupar, merda de tudo, que porra saber do que a vida e desta, as coisas resultarem ao contrário…que peculiar!

De muito não tinha mudado a rotina tudo se mostrava como dantes ou pior, o seu amor em nada vencera, para quê amar?

Tinha o gosto do seu aroma, num impulso que se dá na mente, por vezes podemos ter a via para sair um pouco deste mundo que ao fim de algum tempo deixamos um pouco fartos, o melhor é passar essa fase e tirar melhor proveito das dores que sentimos antes, sendo assim Caifundo fechou a porta e lá estava nos braços da sua ideia, de um ser feito para ele com os bons e com os piores, neste caso escolhemos o melhor porque nas fantasias somos os que controlam as acções, nos sonhos a conversa é outra, somos metade de vontade e outra de desejos que se mostram de uma forma que nos chama e desperta.

Os dois se juntaram, repetidamente juntaram-se, flutuando em aromas e suores, deixando o primeiro para último, coisas que variam de pessoa para outra, assim se deleitaram em si sem que um telefone ou toque de campainha os fizesse parar.

A vontade não liga a regras todas elas feitas para se quebrar para pôr em prática uma outra para quem faltar à primeira, tudo se liga de uma ou outra maneira.

Voltava para o ponto inicial para o seu corpo meio de meia coisa perdida nas definições, quando o bom atinge o ponto mais alto questionamos a coisa suficiente para nos fazer voltar a este mundo, pois é neste que o bom e o mau trabalham.

Caifundo retornou à sua face meio descaída de uma coisa que não tem onde cair, e à sua mágoa tão bem entendida pelos outros mas nunca aceite por ninguém.

Com um ruído mecânico de um objecto que se move lento, chega à janela três vezes maior que ele, este homem que a palavra assim o faz, um homem que se quer a bem ou a mal, nasce o homem bom e o mau.

Este homem tinha esvaziado o seu ser de todos os tiques dos homens, era somente um ser que pensava e que se erguia de uma forma ou outra com ou sem ajuda.

Em nada devemos ou a algo o rumo da vida de Caifundo, as nossas vidas seguem por um rumo por vezes definido, em outros nem por isso, são alimento miúdo que aos poucos dão forma a um ou mais parasitas, Caifundo em nada se situava neste ou outro mundo, aliás os mundos são para quem neles acredita e este era um crente de todos os mundos possíveis de tudo onde ele pudesse ser homem de pés, de pernas firmes, de correr, desejos poucos de meio homem, tempo de um desejo pouco demais para uma vida.

Tal e qual um despiste, igual a um instante esse mesmo que nos tira de tudo o que estava combinado, alturas em que o santíssimo falta à palavra e cospe nestes cá de baixo, tal é a sensação deste despiste, tal é a entrada nestes outros mundos de Caifundo.

Como não seria de imaginar ao início é sentir os seus olhos, o resto…apenas o vê o dito de quem falamos, os seus olhos simulam o que as feições não podem exprimir e quem o olha não se atreve a interromper talvez por sentir um pouco do seu despiste, e não são coisas que nos fazem olhar?

Atentos às vítimas, às moças que daí surgem, somos olhadores ou coisas dessas que se inventam para coisas mais fortes que nós mesmos inventámos, sendo assim de todas, quem o olha não se atreve, continua levando uma imagem, um sangue, um gemido de quem não se quer mostrar.

Ao engolir, Caifundo terminava assim este despiste provocado, regressava a meio mundo tudo sempre em metade, reduzia-se em si, como era? que era?.

A frescura do exterior não encontrava o seu rosto, a janela que se podia igualar a um portal de algum santo ou de um falso anjo, visões de todos, de todos parte um sonho uma parva e maravilhosa sensação de o mundo ser nosso e sermos capazes de o transformar radicalmente.

Coisas que em certas alturas se parece a uma piada de um tipo lixado que faz pouco dos outros quando nos voltamos a encontrar com a vida.

Caifundo tinha uma perspectiva muito sua, igual a pessoas na sua situação, quase obra de um desenho animado, via as coisas a meia altura e no topo de todos, pois por vezes ver mais o chão que pisamos ensina como o identificar do alto, sentindo que por vezes pode ser o suficiente para abrirmos o pára-quedas a tempo.

O tempo destes pensares é complicado definir, quanto tempo passamos a pensar? Quantas das ideias que eram geniais passam a fúteis? Quais das opções devemos escolher, e quais dos dias passaram sem notarmos?

Afastou-se da janela, trazendo consigo o ruído do motor da cadeira, na qual ironicamente gente se senta para andar.

Caifundo por vezes se ausenta de se ausentar e permanece bem sólido no momento em que a sua presença requer a sua atitude.

Uma pessoa que se desloca desta maneira de um mundo para o outro, facilmente deve sentir a confusão de questionar onde se encontra num dado momento, coisa não tão estranha quando por alturas, muitas das pessoas assim se sentem, esta habilidade ou defeito tem daquelas coisas de fazer pensar no bom e no mau, em qual deles estamos ou então se será tão menos bom e pouco menos do mal, fazer disto o pano de fundo da vida.

Como se alguém tivesse fechado uma porta ou para terminar com uma corrente de ar, para descansar de uma fuga em curso, para desejar que todas as coisas que nos fazem sentir possam ficar do outro lado sem armas para nos desmascarar ou trazer pequenas réstias do pouco que poderia ter passado na outra porta que era uma simples corrente de ar, assim Caifundo voltou a olhar com os olhos que se têm na cara e não os outros que parecendo os da cara são do pensamento.

Erguendo a cabeça e forçando os braços nos braços da sua cadeira como quando se cai e no levantar o gesto e a força fazem a ascensão, neste caso somente para se ajeitar.

A sua silhueta era de se admirar, o perfil parecido como talhado em pedra velha mostrando tanto a idade como a dureza.

A esperança parecia-se avistar nas extremidades da sua face, a pouco e pouco as coisas revelam-se…tal como um homem não se conhece assim por inteiro, logo Caifundo assim era.

O medo…isto a que se chama de pouca convicção nos actos, a isso que a todos os que respiram uma ou outra vez aparece.

Avançou como despreocupado, o avançar servia apenas para disfarçar, as mãos que alternavam nas rodas da cadeira davam-lhe a noção dos pés de quem também avança sem pressas, prescindia em certas alturas da parte eléctrica que o punha num sentimento que de se suportar não tinha nada de fácil, e que ao parar lhe dava um pouco de bem-estar.

A diferença era que parava pelos seus meios e não quando ao pressionar a alavanca, que esta depois de forçar um ou outro botão interno iria libertar uma carga que desprendia um mecanismo que para alguns será magia, apenas parava a dita cadeira.

Ele escolhia, e isso que para alguns é uma meta que não tem corrida, a ele era uma dádiva sem diva.

Só...sentia o que não podia partilhar, corria desesperadamente entre os arbustos dos medos, dos reais bosques, dos tamanhos encontros que permanecem eternamente, os golpes dos ramos marcavam a sua presença mostrando-se em pequenas chicotadas em vermelho fino...um néctar

As árvores moldavam-se à trajectória do seu corpo os choques sucediam-se provocando imensas dores, dores de prosseguir como se dentro de um susto existisse um outro...um espelho, com um reflexo individual, assistia a alteração que por demais foge às palavras, do corpo ou seja o que for, de presenciar incólume às aparições das árvores na sua corrida, os sucessivos embates secos que alteravam a beleza, que a depenavam com mais cuidados, nunca o conseguindo sem dor, de não poder parar, de saber que não pode parar, dessa queda que não conhece o chão ou céu ou deus.

Era um acordo, feito já muito antigo, por dois, por dois nadas.

O corpo e mente

Este despiste visitara a solidão, e Caifundo perguntou-se sobre o sonho e o seu satélite inseparável de nome realidade...perguntou aos seus músculos ao seu sangue ao seu calor, o significado do eternamente.

E julgou-se a pairar sobre si, e viu a solidão com os seus intermináveis filhos...ele um deles.

Acordava como se deste se tratasse, de um novo dia, de um dia com todas as infinitas possibilidades de ser perfeito, de tudo se tornar belo e tranquilo, de que o pequeno almoço fosse tudo menos aquela preguiça imposta dos movimentos em confronto com aquela pressa mental que lhe assentava, ele transpirava a vontade de se alternar de variar como as nuvens, ele queria estar em constante mudança.

Emanava o igual de que somos feitos e que nem sempre o vemos como tal, sofria destas dores estranhas que doem na mente ou algo imaginário. Contudo que a dor é real, disso não restam dúvidas, a sua face exprimia-o com clareza...agonizante.

Que se quer de uma pessoa como esta? Destas pessoas que têm no corpo ou na mente uma alteração, um aumento de visão sobre todos os que aparentam a saudável reputação de pertencerem ao vasto leque dos aceites entre a comunidade, o perfil está desenhado e o homem toma a missão entregue pelo um outro senhor que ninguém lhe diga que alguma vez se enganou a fazer o homem à sua imagem...

Porém Caifundo há muito que tinha retirado estas formas de pensar do seu pensamento eram simples rotundas de uma lógica que se transformou num dogma sagrado e logo excluída a hipótese de correcção.

Decidiu que não haveria culpa para alguém, abandonou os preconceitos e esses parecem só existir para dissuadir as pessoas de fazer ou pensar em outras coisas, tão claro que isto lhe parecia, como o claro que de um céu se atira sobre nós aconteceu novamente já sem saber em que parte do percurso que tomava um outro despiste...o claro alternava com a sombra dos ramos dependendo da rapidez do seu olhar, por não saber a razão Caifundo olhou para trás e reparou na sua cadeira de rodas que o esperava no topo do monte, sorriu, porque mais não queria sentir e continuou e haveria tempo para se sentar. Sim essa altura esperava por ele, como todas as outras que ainda desconhecemos, caminhava num passo calmo de como quem disse à rapidez para não ter pressa e demorou-se nos seus olhares no apanhar do sol naquela altitude, percorria este bosque como se lhe pertencesse de sentir que o outro mundo de onde viera era tão diferente, o respeito abundava entre os seus ocupadores e deste despiste que privilégio era sentir o pulsar da terra.

Tinha tomado da poção do perceber de sentir que algo mais abunda neste caminho que se mostra, é deste algo que o inunda que o faz ser um vento que passa entre as teias do limite imposto por séculos de ignorância do homem...libertara-se e por fim deleitava-se nestes mantos de compreensão.

A rapidez de tudo é insignificante, tudo e mais algo que poderá vir perde assim o seu próprio volume, espantado por ver que por trás deste mundo outro se revela e mais outro até que o conjunto de tudo seja assim, o local onde se está. Pronto para continuar, encontrou-se novamente na curvatura metálica da sua cadeira de rodas.

Num ar de quem se entende e entende o que o rodeia solta um meio tamanho de um sorriso, e ajeita em delícia a maneira de estar em vida, esta busca fez dele aprendiz e professor, dele entendia-se a tranquilidade pois há coisas e senão elas todas que o seu tempo é apenas a sua presença a sua participação, e tal como o chão aguarda a chuva que se desprende das alturas, assim como as alturas o farão para o chão...CAIFUNDO avança surpreso com a recolha que faz de cada despiste, parece-lhe que está inundado por um olhar novo este de conseguir olhar a vida.

Definhava as suas experiências como o devagar amolecer do chocolate na boca, a pressa tinha sido expulsa do seu reino e o vagar era agora o único herdeiro deste novo pertencer, peculiar era o vestir este traje de nova consciência, onde os lugares trocavam as posições e o que era um dogma passou a ser mutável, estas maravilhas que às pessoas acontecem são por demais dignas de nota, pois a maravilha desta alucinante condição de estar vivo e tirar daí algum proveito, é rechear de bem-me-quer a dita flor.

Este ser que numa primeira visão parece ser um homem que não tem muito para dar, nem a quem o vê nem à sociedade a que pertence, tem em si um tal de um estado que aos muitos que o buscam nunca o souberam encontrar, há coisas assim, e os conceitos que foram incutidos à volta da cadeira de rodas e de quem as usa é um pretexto, é daquelas coisas pensadas e repensadas e que no fim terão somente que dar um valor...a pena.

Mas não é somente disto ou daquilo que se fala, é de um comportamento que fica a desejar melhores dias.

Ensinamentos milenares de um tal senhor que simplesmente se evaporou ou se mudou para outra freguesia...quem sabe ao certo.

Era um género de purificador que se instalara em cada despiste, o cheiro podre das palavras que por demais já não têm aroma, e todo um conjunto de pensares que em tudo tem a ver com os outros, com o connosco enroscado no pescoço, um todo em que ninguém já acredita existir mas que todos pensam nele, tudo isso ficara de fora, isso não seria preciso, não era necessário.

O certo e o errado eram pequenos satélites em redor da sua consciência, porém a sua consciência tinha mudado tanto de forma como de categoria, essas lutas e confrontos, concordâncias e alentos eram coisas do resto do tempo, um preservativo mental assim por capricho.

Este ser, ia perdendo os tiques que tanto nos marcam e nos faz ora pessoas de bem ou moscardos da madrugada que fustigam as vacas na ordenha.

O que se tornara uma vez os únicos valores de um mundo certo de existir, veio mostrar-se aos olhos de Caifundo apenas um processo de crescimento, apenas vida para a morte e vida depois...apenas o prazer puxando a dor, equações mirabolantes para resultados universais.

Isto de sentir algo a crescer por dentro é estranhar o conhecido, tinha perdido...coisa por demais essencial, tinha deixado no esquecimento a morte das feridas num cemitério de areias movediças, existem outras para esquecer e existem tempos em que isso é fundamental, por ter perdido e esquecido Caifundo ganhara o vazio que lhe dava oportunidades para acreditar em algo, mesmo e senão unicamente no amor, à boca subiu o diferente sabor da perda, acompanhado com o arrotar finalizando o processo, bom proveito e continuemos...

Passagens rápidas, como o bater do coração a vibrar por todas as paredes do ser, Caifundo julgava que tudo se eleva e que ignoramos o cuidado a ter se nos habituarmos a um sonho, destes que fazem viver mesmo a sério e como uma segunda pele nos cobrir como o quente do sangue.

Conseguira equilibrar-se neste mundo de cópias, que qualquer um nota a diferença mas ignora a importância?

Por baixo destes despistes sussurrava uma enorme criança, um gigantesco pedido...uma lembrança, o regresso de uma órbita que se julgava mais longa, depois da vida se possível, mas o mar não entende que sejam regras o seu acto natural, e deposita na terra o abraço a chorar.

A sua face tinha mudado para coisa que parece sempre tão familiar, coisa que por vezes só se vê uma na vida, algumas vezes nem em milhões, a paz inchava as veias e corando, sentindo as caras, o aumento gradual das pessoas, o esvaziar de almas em sufoco, tudo num só corpo, Caifundo julga-se empurrado no peito e depois pelas costas, vomita apenas pela posição, a paz saiu deixando um vazio de perfume.

A Paz que saiu de Caifundo ficou onde a Paz deve estar, tão distante de quem não a encontra.

Porventura ter encontrado a Paz, não se entenda que seja garantida.

Como Caifundo podia decidir desistir de lutar, que como não dando socos nas afrontas e provas da existência, luta com ele próprio, não será esta a verdadeira luta?! De vencermo-nos, gritando a vitória em cima de nós próprios, tantas pessoas convencemo-nos ser, que afinal uma capacidade que nos assombra pode fortalecer.

Assim Caifundo não chega a pensar, mas sente-o como uma presença, como um vulto que desenha a forma que não vemos.

Pontapés nesta luta daria, mas mais em lutas emocionais, pois não esquecendo que Caifundo não anda...desliza na sua cadeira de rodas, que esta sua foi bem imposta, desconhecemos a razão, coisas da vida talvez, coisas que acontecem, pois, e o que fazemos com o que acontece?

Caifundo abraçou esta pergunta

- Pois sim, o que fazemos!? Ou é alimentar este acontecimento ou deixá-lo morrer à fome ou ao frio, o que fazemos com o que nos acontece...?, e que fazem os outros com isso?

A esta pergunta Caifundo até lhe abriu a porta

- Vai que prefiro ficar só

- Como queira...

Aqui estamos e aqui está Caifundo, homem alto mesmo sentado, ali vai percorrendo um ou outro corredor, que mesmo nos acontece, todos os dias para não dizer toda a vida, que parece grande demais para se imaginar, assim nos vemos em cada situação optar por abrir a porta que achamos ser essa a que devemos escolher, espreita-se sempre por cima do muro mesmo estando a porta por abrir.

Ali vai com vagar, olhando as portas cada uma chamando para si uma mão ansiosa, tocando-as ao de leve para ver se vivas estão ou mortas, pois há opções que não voltam para nos visitar, deixam-se esvair se é que se pode conceber tal panorama, serradura...melhor assim.

Este a quem o nome já sabemos, é pessoa, que a isso não nos tráz novidade, seremos todos pessoas? Recomecemos então na pessoa e que além desse estatuto bem dito ou mal fadado, é também como se reparou deficiente, e disto dos deficientes têm muito que se lhe diga, mas não deve ser verdade porque a grande parte do bolo que é a humanidade, essa grande parte do bolo humano não diz nada ou não têm nada para dizer, que não pensam?!

A isto só o silêncio responde:

- Posso contar-te uma anedota? Atreveu-se calmo o silêncio

- Se for boa...consentiu Caifundo

- Vais ficar sem palavras...

- Boa, gostei! Encostou-se para trás na cadeira.

Despediram-se no barulho da amizade.

- O silêncio...bom amigo este tipo!

E neste momento voltou-se para outro silêncio, esse que também pode ser, dizer-se tudo e não dizer nada.

- Proeza desgastante, deixou estas palavras escapar.

Pois...os deficientes, lembrou Caifundo, guardava para si que desde o estado mais estranho que possamos estar ou ficar em deficiência, a mais estranha, a maior deficiência era a normalidade, todos os normais, sofriam da pior espécie.

Tal acontece nos normais que também há a ovelha negra, e como os normais abundam uma só ovelha não respeitava a grande normalidade, então as ovelhas também evoluíram em número.

- Espera Caifundo! Disse ele próprio.

Façamos assim, há pessoas que olham uma pessoa e por magia vêem pessoas, outras há, que olham uma pessoa, e deficiente vê um acusador.

Há então vira bicos mais complicados, pessoas que vêem pessoas e não conseguem permutar a sua existência...

Caifundo sentiu uma presença crescente e ouviu.

- Falavas de mim?!

- Existência, és tu?! Sim de ti falava! Como estás? Sim já sei, estás aqui!

- Bem visto, mas nem assim se nota! Disse a existência rodando sobre si

- Fica-te bem esse vestido! Elogiou Caifundo

- Também gosto, posso te contar um segredo? Perguntou a existência aproximando-se

- Se achas que sim...

Assim a boca procurou o ouvido, este chamou a boca e está visto...um beijo

- Bonito! Alegrou-se Caifundo, pois nem tudo que é verdade tem que doer pensou.

- Então boa viagem

- Para ti também...gritou a existência afastando-se velozmente.

Estas visitas são vulgares na mente de qualquer um, quem as vê com tal, surpreende-se no início, passando com o tempo a tratá-las por tu, outros ainda como confusões, coisas de coçar a cabeça, e de tão absurdas que não poderiam ser reais.

Como a rir pelo nariz, soltando graves e quentes respirares, a roda gira e Caifundo também…

Do corredor branco e comprido, por vezes esse corredor branco e enjoativo, uma vez mais, mais de menos, a porra das medições, uma vez mais levantou-se o impossível e Caifundo caminha pelo mundo que lhe é tirado, é difícil esconder de tantos o que é grande demais.

Perceber as mudanças activas da percepção, quando isso acontece o novamente é alterado, vivemos constantes novidades, aquando de olhos nos olhos.

Caifundo baixou-se para falar com um ser mais pequeno, esta criança mostrava-se sem pele, sem ossos, sem corpo, como o corpo dos humanos, luzia suave percorrendo as cores que não deviam existir, deixava fios de luz perdidos pelo ar…riram como crianças, nada disseram, que dizer quando se sente o importante?

De mãos dadas acompanhando a distância, o branco da compreensão, vaguear acordado, vaguear a dormir, Caifundo aprendia a manejar as grandes válvulas da imaginação, as que davam entrada pelo despiste.

Não é certo ou sabido onde se encontra Caifundo, em que época ou tempo está, nem mesmo a história da cadeira de rodas, não se disse relatos do provável acidente que o levou a esta condição, de onde veio e que passado fez este presente, como tantos outros que não sabemos.

A sala é branca, como também é a vida, com o espaço disponível para encher ou deixar como está, assim acontece na vida de alguns que somente a pressentem sem nunca a sentir.

Porem Caifundo ao pensar o que escrito foi, balança harmoniosamente a cabeça, como a ouvir música que entende.

-Afinal posso tudo! disse Caifundo.

-Algo? senão tudo!!acrescentou.

Pois quando despertamos, não é só parcial, é o todo que se mexe, pode mesmo só ser uma revolução localizada, mas afecta o geral e mais.

-Posso até andar!!!

O que se viu foi a cadeira ficar sem parceiro e disponível para se ocupar

Os pés ultrapassaram-se um ao outro, como para dizer que é isso o andar.

Mas não quero!!...ainda não é altura, disse Caifundo

E quem não aproveitou a cadeira vazia, ou mesmo se quisesse, não teve tempo para tal, Caifundo retomou o seu lugar e sentou-se, pois foi só isto que se passou, alguns poderiam ter dito que o coitadinho voltou a colocar-se sem nunca se sentar como os demais.

Sentir o nascimento e plena morte das tentativas, dos desejos sinceros sem alternativa, que fazemos nós diante de um beco?

Alguns conseguiam apaziguar e no seguinte abrir de olhos, viam Caifundo a olhar para eles, eles de baixo para cima, ele de cima a baixo por igual.

O próximo pestanejar era a mentira cheia de verdade, alguns não mais voltariam. Outros tentariam sempre, poucos podiam voltar.

Sentou-se no nada, ele existe tão abundantemente entre nós, e voltou-se a sentar…a estrutura da cadeira voltou à delicadeza da mão…tinha voltado do despiste.

Caifundo espalhava sementes por estes mundos…talvez na esperança de em algum fazer casa…escutava bem os sentires das pessoas, muitas delas não sabiam sair das suas opiniões, dos juízos constantes que se fazem dos outros..os outros aos outros e espalhando assim a boa nova que condiciona quem a ouve e ainda mais quem nela acredita…matutava Caifundo no porquê desta fraca doença germinar sem oposição em terreno sagrado, onde estavam as tropas? Todos os soldados da verdade?! Embriagados pelas certezas erróneas de julgar, enterrados no movediço egoísmo da opinião.

A memória dos primeiros aqui chegou já a rastejar, sofrida do ataque persistente da ideia posse/material, condenada a morrer por inanição…um elefante sem nada a lembrar, sondou a sua própria memória, escutando as vozes dos antepassados, se o seu sangue sempre foi o mesmo…o mesmo de todos, então a ligação sempre existiu, procurou mais um pouco…e um pouco mais, reparou que os sentidos convergiam para o seu núcleo consciente…avistou como que anda sem poder andar, a imensidão que pode ser uma pessoa só.

Caifundo adiantou uma pergunta:

- E se essa pessoa o quiser partilhar?

-As pessoas não podem partilhar o que ainda não descobriram…disse o sangue dos primeiros.

-outros não o querem…acrescentou Caifundo.

A singularidade tinha sido mal interpretada, disfarçada em vaidade, prometeu mais do que podia cumprir, desanimados e feridos no fútil orgulho, declaram guerra à honestidade e lutam às cegas…empunhando a injustiça.

As palavras em actos, os actos em palavras.

Caifundo esquecera a pressa do sentir, essa que por vezes nos leva a ficar diante de um abismo tenebroso, nada parecido com a luxuriante selva da tentação, o apoderar simplesmente do sentir que nos visita.

Na ponta dos pés e diante do abismo, recoloca-se a custos o equilíbrio.

Iludribiados pelos espelhos da existência reconhecemos a loucura na sanidade, o espelho dentro do mesmo, o mesmo que de dentro vê.

Caifundo, aprendiz de uma nova alquimia, de aspectos, de modos, de conclusões e duvidas, do impensável ao intacto.

Tudo ao seu redor… sofreu, sofreu mudanças, houve mortes para vidas, o ciclo variado do eterno.

Caifundo não tinha fim.

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