segunda-feira, 21 de março de 2011

amar go

Tens para mim o que me serve

Tens que me sirva o que te serve

Serve-me então na mesa o teu manjar

Dá-me garfo e faca,

Dá-me mesa e onde sentar.

Vê-me agora ingerir…vê-me ingerir no agora

O doce amargo sabor,

Da madrugada.

Sombra nocturna

Ao luar ninguém me chama, pois não tenho nome, não há chamamento para mim, recebo na mente explicações que carecem de fim, defender cansa tanto como atacar, defende-se o que? Na noite adivinho o subterrâneo dos seres e sei exactamente o que almejam é o mais pequeno dos poderes, o ter, o consumir, o disfarçar uma alegria através de consumos, entregues, oferecidos, deixados ao abandono às mãos de um parasita etéreo mas perigosamente cíclico, o tempo é a distancia do dia em que nascemos ate ao dia da nossa (minha) morte, sem a morte creio que a vida seria uma recompensa injusta, porque não aceitar a morte como aceitamos (tão despreocupadamente) a vida, as letras, as palavras e soluções estão na atenção da percepção…a comida à boca, a boca à boca, o beijo, o toque, a aliança, o saber do sabor, o prazer que vai dos lábios ao corpo à mente à consciência e ao vazio, que é onde tudo vai parar, pois (se opcionalmente) levarmos para o cheio, ao uno, ao imenso, isto tudo dir-nos-á o mesmo…ao vazio ao pleno.

Escrevo símbolos de símbolos em equações líquidas, eléctricas, químicas…eu percorro em mim o maior dos mundos e ao mesmo tempo o mais pequeno, termino sem reflexo ao espelho, ao luar tudo cresce entre a habitual penumbra, choro apenas lágrimas, não há choro para mim, como também não tenho nome para se repetir até à exaustão somente o corpo, lapidado está o futuro dos que não lutam lutando e dos que não lutando têm a maior das guerras.

Ao luar o ouvido cresce até ser a copa de tudo o que vejo, e contrariamente ao que sinto, sei que o que sinto são também palavras, prosas, bússola a outro sentido, transforma-se então o sentir em sentir lógico em sentir comum em sentir prático em sentido e pelo sentido de sentir, atravessar por aquela velha estrada onde dizem ser proibido Ir.

de pois

Depois de sangrar

Depois de gritar

Depois de atirar

Depois de me matar sem sucesso

Depois de ferir sem sexo

Depois disto tudo

Descanso por momentos a minha luta

Depois fica o quieto sentir, uma vida vazia, uma flecha sem arco, uma arma sem alvo, fome sem boca ou boca sem comida, divago já longe depois de sofrer, restam-me pedaços pequenos de prazer que utilizo como roupa e calçado, neste meu caminho fragmentado.

Palavras de tão fortes marcam severamente a fraqueza estrangeira, apetece-me largar esta pendente esperança, queria desfazer o duelo da minha dualidade, que mais é feita de preconceitos do que verdades, já a verdade é feita de mentiras, haverá então coragem sem medo? Amor sem ódio? Morte sem vida?

Não há dualidade, isso apenas somente ocorre aquando se defende em nós o ego desprovido dos membros que somos nós.

parede quente

Através das paragens, reparo na textura nova destes sentimentos, uns já experimentados outros presenciados numa esfera sem fim, sem memória de começo, sem saber vou degustando o desvalorizar do valorizando, enfrento apenas com receio de não repetir, a montanha já russa de ser usada, da onda apenas encontrar o corpo, não a memória.

Tudo novo como nunca deixou de ser, luto em frente ao espelho, todo ele medida, eu, alma vestida, roupa igual, trocamos olhares divergentes, parte-se no plano espelhado a indiferença e banho-me dos pedaços, agora inteiros, a minha fragmentada imagem repartida também nos espaços vazios onde a luz não encontra via, contudo o morno silêncio da distancia murmura especialmente a cola de nova tentativa.