quarta-feira, 30 de setembro de 2009

permite

mata-te,és o que mata e o que morreu
liberta-te, és o preso, o liberto
que conseguiu o que nunca perdeu

permite mudar, moldar, variar , transformar

derruba-te, ergue-te , quem és ou não
o mesmo é ser-se sem querer

faz da morte o que faz da vida
a presença obscura incógnita
permite o desenrolar de cada onda
sujeito o mar não guarda nunca
o que tem para dar

deixa de procurar onde não és
o que já se encontra

descansa por fim
e chega como chegam todas as ondas

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

sangue oculto

Garças transparentes ao temor
As graças em que caí
Pelas desgraças que vivi
O céu hoje é o meu chão
E eu tão diferente.

Acordar sucessivo
Hoje, outra estrada o mesmo fim, fazer de conta que tudo se faz, não fazer a conta do que se fez, não somos os “5” com que absorvemos aos sentidos, a rota certa, isso há de não existir, e a partir pedra descobre-se que se pode viver muito cá dentro, o vento fez rodar a placa de direcção e julgando o exterior como limite dos sentidos, esse não é mais que o começo para algo que perde e ganha nomes à medida que avançamos, os sentidos amigos, também levam sangue.

nada disso

Vejo o surgir do clarão, debaixo de lodo nevoeiro, vejo a fina luz
Quando a perco, perco sôfrego de mais enganado encontro-me e logo resolvo em me matar, não quero cá “outros” nem “outros eus”. Resolvo nada com uma única peça do puzzle.
Aqui, perco a sanidade e ganho uma louca sanidade, hoje já não sei quem sou, e saber quem sou, saberei quem fui?! Nada me interessa apenas o vago, o perdido, o que não volta da elipse, tenho tudo, quem diria?! Que nesta mortalha ressequida fosse eu encontrar o pleno, o extremo das dores no sorriso bonito de um estranho qualquer como eu.
Mas que caralho penso eu?
Quando é que a morte me mostra a vida que perdi, e isso que importa?!
Morrermos, nascermos pra que?! E se importa saber isso, a vida é, não as coisas que fazemos, que temos ou que damos. A vida prende-nos mesmo em liberdade mas não prende as nossas escolhas, é um transporte que faz apenas a sua prestação, uma oferta vindo do caralho que nos foda a todos!
Mais melifluamente te diria ao ouvido: Estamos todos fodidos, como quem diz que inevitavelmente todos perecemos, que tanto o belo como feio alternam-se, vagueiam em nós, que sejam feromonas cruéis de pânico ou lagoas cheias de espanto habituado quando vemos a vida, ela vê-se em nós, quais castelos ou fortalezas, isto acontece, converge para este tão esperado mas sabido momento, que aos poucos espreitemos todos a mesma janela.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

pro cura

Traz-me a fugaz tempestade de existir
Não mais que ser absoluto
Um pouco mais que o desejo de autenticar
A verdade procura a pergunta, não a resposta
Procuramos nós, nos outros a nossa?!
Mais escutam os que não podem ouvir, mais veremos em acabar com o cinismo do parecer.
Nos peitos graves, descansa o beijo, o leve roçar dos núcleos...
A estranha alma de todos
Os estupidos, os espertos, os poucos, os muitos, os doidos, eu
A mente incomodada com tanta atenção, deslizou para pés
Tentando encontrar um novo caminho,
O sentido jorra para fora das horas
As emoções maquinas
Labutando ao Eu, ao Eu em honra
Amanha estará morta, a Rainha outra
Da madeira os sobreviventes anéis, as orlas, dos fossos, dos castelos hoje vazios de consciência
Cósmicos sentires, tão feito de nós.

frag ansias

Revelo-me podre
A dor em riste
manuseamentos frágeis às emoções
mandar...mandar tudo pró buraco
das coisas que quero mas que não consigo esqueçer
do lodo que habita nos meus pés
o globo agita-se, remoinhos nas palavras, sem significado
o futuro disto é agora, o amanha é-me solidão e um óasis sem sede
um perfume que nem eu quero usar
desloco-me nesta personagem, ingrata, parva, inconsciente
se tanto nestes momentos me parece a vida, um punhal demasiado dentro, já quente, ao qual me habituei.
no meu calor ninguem se alimenta
alimento-me, de pança cheia, cheia do turbilhão que sustenta esta fraca loucura que não me mata, enfarta
foda-se enfim!
das chagas nem um ai, nem susto só, os medos e as dores, são os unicos convidados que aceitam o meu dilacerante convite
na paz, em amor, em guerra brutal, em terra sorridente
uma morte aos meus persistentes desejos, uma vida aos meus falecidos intuitos.
nisto, avança uma lenta marcha funebre, que não parecendo faz nos dançar até à tumba
isto não são mortes, nem renascer, são doutros mares estas ondas
o que figuro é só o parecer
o que me faz ser
saõ altas rochas, feridas calmas
aves libertas de uma gaiola
que sabia bem o porque de existir
vomito palavras, regorjito sorrisos
em nada sofro, sou todo um vazio
com espaço a tudo.

domingo, 26 de abril de 2009

paragem benéfica

levanto-me e vou trabalhar, rio-me de mim, ver-me assim apressado, com a urgência da responsabilidade de cumprir, vejo os demais como eu mesmo, levantando, vestindo o apressar nos deveres, cumprimentando a quem os meus interesses amam, sirvo-me destes personagens como um outro insignificante Eu.
Tento fugir da amálgama, encontro-me sempre a voltar em cada beata lançada como moeda sem poço de desejos, eu entro, ela fica.
Os dias aperfeiçoam a lamina, o descuido o resultado, e quando o dia finda, eu saio, eu entro, mas não vou a nenhum lado, troco apenas de posição e julgo nisso, mudança de mundos, mas estou errado, eu é que não me vou salvar.
Porque ao salvar já estava a voltar de onde parti
E entre as coisas que sou…criam-se distancias, alcançam se outras
Agiganto-me para lá da minha ordinária substancia, e um novo sempre antigo existir enfrenta
A sua natureza

rosnar

A humanidade caminha só
Levando consigo biliões
Ao que uns poucos
Utilizam como anzóis
Fará parte então
Morder a quem nos morde
Cuspir a quem nos cospe
A acção mente-me pela consciência individual
Derreto-me ao tempo
Solidão

quarta-feira, 15 de abril de 2009

só isto

E ai vamos nós...no esquema dos esquemas
Do trabalho, da assiduidade, do escravo,
Nós, escravos não só de um modo de pensar, como de pensar que o mal é que é o bem
E atrapalhados em prol dessa dita Justiça...fodem tudo e todos,
O simples que é viver, tornou-se no menos apetecido de ensinar
E o Ser confuso pensa na descraça e na morte, e esqueçe todo o suporte que o sustém,
Mesmo antes de se libertar, comete suicidio, por que assim o educaram para viver
-Tens que ter isto!! E mais aqueloutro e mais um pouco daquilo
E isto não tendo, esmoreçe, os iguais colocam-no à margem ( que é sempre um inicio de outra coisa qualquer)
E isolam-no antes deste o fazer a si mesmo
Embrulhado duplamente, perde o norte, julga-se sem sorte e respira agora sem viver, chora a sua plena liberdade como um castigo, olvidando que o nascer é romper em pranto, é grito, é espanto,
É tambem um sofrer sem saber se é pouco ou quanto desse pouco é chamado de viver
Situo-me no escuro a ver
O que realmente surge
Apenas amor, apenas o bastante
Bastante apenas disto!

sexta-feira, 20 de março de 2009

apenas isto

de tudo aprendo
em pequenos espaços
tudo levo por relação
o portal é hoje visual
sensorial ao infimo
imagino isto, em cozer o manto para protecção
mas como me posso proteger de mim?
não me vendo,não saber onde esconder, vou educando lentamente ao minuto, toda esta engrenagem que sou feito, bebo e fumo poções
que apenas clareiam o passo
que dou.

domingo, 8 de março de 2009

Caifundo já morrera tantas vezes
Porem nesta ultima mortenascimento sentira o murmurinho de vozes, de vivências, de alguém, sim era isso!!
De muitos alguens, de todos, de saber como um paladar se desmancha na língua.
Ali estava e era qualquer coisa.
Caifundo nesse dia resolveu sair….e onde?
Que lugar escolher depois de tantos anos em retiro?
Tinha renunciado andar na rua com a sua cadeira de rodas.
Eram poucos e sempre discriminados, objectos andantes sem corpo, o olhar dos restantes pasmados com esta deslocação tão diferente do que se diz ser o andar.
Esforçavam se por reconhecer a pessoa , mas apenas tinham sucesso em reconhecer os objectos, uma muleta, uma cadeira de rodas, algo que fosse inanimado, que os liberta-se do humano, daquela parte antiga insistente em cada encontro, que os ditos comuns, tanto no andar, como no parecer, disfarçavam tão delicadamente está tentativa de aproximação ou curiosidade em outro ou qualquer ser, a espontaneidade era coberta pelo ser em comunidade moderna, o simples ignorar de presenças era estimulado, resumindo para somente no núcleo da família, espaço para a noção de amor surgir, ou algo que sendo tão contraditório possa mesmo existir sendo outra coisa.
A pressão tinha feito dos seres, algo que humanamente fosse impensável, a própria autonomia ao esquecimento, algo que encolhe, contrariando o efeito da luz do sol.
Um antídoto à consciência, parecendo estes mais parecidos a objectos, a ferramentas, a peças, que os que não encolhendo esta consciência, que deslocando a sua presença por veículos, por objectos/ideias/utilidade avançam, querem pois o aumento a que estão habituados, a uma percepção imensa de reconhecer todos em todos.
Caifundo visualizava sem dificuldades a rede que os envolvia, a teia onde esbarravam, e os poucos que ao sentirem-se presos, seguiam disfarçando todo este episodio.
do amargo ao doce
ao riso do choro
sou mais a alegria e mais o desgosto
sou a empatia, o encosto, um muro transformado em linha rasa
dos que amo não por querer, e nunca por não querer, algo me escolhe a direcção
dando-me o presente inigualável, respiro, inspiro naturalmente esta estadia de sentir o mais que estar vivo.
O vazio completo antes de nascer, o completo conteúdo de um nada, que sendo isso, é já tudo.
Assim esquecer-me, tira o juízo da vista, do amor sem letras escritas
O instante são os movimentos que lançamos como sementes, eu perdido mesmo em mim, não me perco à vida, vou de boleia e a conduzir
Posso e não o posso, esta falta que é o que falta ao poder, para ser completo…é o que faz surgir,
Na minha figura violenta, o beijo

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

parece que não é

a rua de volta
labirintos de prédios, com ratos lá dentro entretidos com a dor sorridente, gastam as vidas em solas.
engolidos por quem os vomitou, são a sopa quente das alimárias sobre todas as outras, mergulhados até aos timpanos em mesclas doentias...parecendo que o que é, é, não o que parece.

olvidar

o barco vira-se , virou-se na mais branda onda do amor
calei-me baixinho até à surdez
entupi o caminho, enchi, quando já mais não cabia
e a dor formou esquina na minha rua.
no mesmo sitio, na mesma hora de sempre, na mesma pessoa viva, no mesmo instante, uma atroz corda que não puxa ou segura
um sangue espesso em cola, dormencia, fatalidade prevista, à justa de ser bom, um deslizar ao esquecimento.

sem querer

Acordo de um sonho sobre um desejo
deixo a minha marca
inerente está todo um amor que não utiliza conceito ou barreira
amo, amo-vos a todos sem ter qualquer relação.
isso que vos relaciona não aumenta a vossa felicidade
aprisiona o selvagem
e dá-vos a corrente transparente da confiança em estado de ruina
iludidos pelo prazer, só o encontram (alguns) já a morrer
ama sem querer!!