Surjo ao acordar com ar de pasmaceira,
Que faço aqui?
Levanto-me para mais uma muda de roupa, as meias, as cuecas já postas, o tronco coberto dá lugar á vez das pernas de se cobrirem, bebo leite que já não preciso e lanço-me no despachar de acertar as horas com o relógio que está sempre certo no (in) posto de trabalho, chego mas não o sinto, começo a manejar os braços nas direcções dos objectos que por esta acção reproduzem efeitos reconhecidos aos meus semelhantes, as coisas são feitas, são desfeitas depois para subir sentido, eu bracejo tecnicamente ao assertivo, mas reconheço o erro que se esconde, o dia irá escorrer por esta fissura até por intuito ou por ser horas de sair, acordo na rua a caminho de casa…Que faço aqui?
Vejo o vulto dos dias e encontro-me num outro tempo, uma outra velocidade, mais rápida no núcleo mas tão lenta olhando esta a que chamamos de Real, o erro avisa-me de onde estou, de como estou principalmente, como o ódio habita já em uníssono com o amor, os confrontos habituais fazem-se em festas e amplexos, esta pele que se estende até onde não consigo indicar, bafeja-me de tranquilidade envolta num turbilhão.
Que faço aqui? Pergunta-se este meu Eu, que se distrai, que se contrai aos impulsos, que se dobra aos impostos e semelhantes anzóis, Para onde porra! Qual o sentido?!
O “Aqui” sussurra-me: aqui não temos tempo para elaborar pensamentos, apenas preocupações, que aqui o processo é outro, em troca de uma distracção momentânea, através de um pequeno desvio que se faz estrada principal no transito dos pensamentos, aplica-se um verniz amplificador, um catalisador do desnecessário e tornamo-lo atraente o suficiente para passar por razão ou outra mistura que dê como resultado algo de aspecto fulcral, a partir daqui a merda é comida e a comida uma merda, uma escada-espelho de efeito isótropo.
Mordo a língua, tento aproximar isto tudo para olhar, para ter onde olhar, o para quê, de tudo isto, nuvens de responsabilidade a algo que transcende o absurdo, os pés avançam num decorado caminho sempre diferente, e num estender espumante de uma onda silenciosa, tenho o mar como chão, como céu, feito ar, para respirar para falar para calar também, um aqui que mudou de lugar, uma porra qualquer que não nos faça adormecer da verdade.
Em 1978
Há 6 anos
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