quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Gafanhoto

Sentei-me ao Sol, sob o Sol, sob a nuvem que tapou este Sol, sento-me e no meio das minhas pernas sob o meu olhar, encontro uma abelha morta na beira metálica deste assento vermelho, com os dedos empurro-a rumo ao chão, sem interesse pelo gesto prossigo nas minhas confusões que são apenas paciências, nós, alguns muito cirúrgicos até satisfazem ao olhar tal obra, mas é necessário. Este barco sob o Sol não conseguirá fazer-se ao Mar…continuando com estas amarras…o Sol incide, ilumina o chão, ali uma formiga encontrou a abelha defunta e após algumas tentativas de a levar às costas decidiu ser melhor leva-la ao colo, ainda a vejo, já distante do começo, vai, como quem leva nos braços livros, certa mas cuidadosa, já não a vejo mas continuamos, eu, a formiga, o assento, a abelha, a lagartixa sem rabo que me espiou à momentos e mergulhou por entre os buracos deste assento vermelho. Volto-me para os nós, alguns teimosos em não querer, outros deslizam sob os meus movimentos, soltando-se com a pressão, como quem solta os cabelos. Paro e não reconheço quase nada, tudo mudou em prol de palavras passadas, nem mesmo a verdade se serve nem a mentira quer já comer, em mim gera-se a revolta, o povo está exaltado no seu silêncio e quer saber se morre pelas suas escolhas ou se o farão essas mentes com iras, não há nada para se perder…quando assim já se sabe o que se tem e o que nos alimenta, não chega comer tem de ser comida, vivida e participar na sua morte, ali ao canto sob o Sol um som cadenciado com intervalos de ajuste de trajectória, está um Gafanhoto a pular para subir aquela parede impossível, ele no entanto pondera estas investidas a uma coisa que à partida já parece decidida, acho que o ouço dizer:
- Tu que estás ai e me olhas sob o mesmo Sol perguntas-te para que faço o que faço?!
Sou um Gafanhoto, pulo e mesmo sabendo que posso morrer aqui ao canto sob estas folhas castanhas a lembrar o que são memórias, faço, pois assim o consigo, não interessa falhar ou acertar, ambos são esforços, intenções, haverá pois a cadência dos sucedidos e aconteceres, haverá assim após o sucesso ou falhanço uma outra carta branca por escrever.
-Sou Gafanhoto e este canto talvez o meu caixão será até então o meu caminho opcional, eu sei que é pulo grande, talvez nunca o consiga, mas já o vi, já o tive, já dei o tal pulo de saída e já te vi lá em baixo sob o mesmo Sol que nos aviva o viver, a escrever e vejo-te também a um canto, a um outro canto a pular como eu e nada te digo sobre o que fazeres, faço o mesmo que tu, tu o mesmo que eu, o que importa é respirarmos como caminho as nossas escolhas.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O Probo (?)

O amor surge embrulhado num novelo de conceitos, ideias, pré-emoções
O ódio é outro igual, envolto em abstractos sentimentos contraditórios, o que é essencial é que haja um determinado atrito, sem ele teria escorregado no teu abraço ou não te teria sentido dentro de mim, já encostado a ti olho-te os olhos a dizer sem verbo: é isto viver?! É isto? Que é isto?
Dizes que sim ou sei lá, que importa no fundo a ideia ou conceito que temos ou somos do amor, do certo, em frente do jovem pelotão da acção ainda peço um milagre, não que falhem o alvo, mas que seja outra razão do que a do amor…porque o tive e agora foi…mas então o amor não é também cego?! Como a justiça não é?! Tapamos os olhos aos que precisam de ver mais, talvez tanto seja desnecessário, mas melhor, ver melhor, onde colocamos a realidade empurrada de ideias feitas nascentes de um mar confuso para gerar ondas, aquelas que vemos chegar, que ao pé delas pensamos que coisa enorme de se perceber, as emoções molham-me os pés mas recuso o mergulho, fico aqui continuando é claro, mas aqui onde tudo sempre acontece, um deserto dentro da palavra alimento, o que então nos alimenta? O sexo? O estado ionizado da consciência e consciencializar é ter, ter ou a chave ou a porta que importa? ter é uma desventura ter que proteger ou afastar quem proteja, a nossa vontade essa continua…ferida ou não, meia torta ou torta inteira, o que importa nesta abertura é só abri-la
Depois dela estamos sempre perdidos